Hoje estou aqui para contar a vocês uma estória. Ah Deus, mas por onde começar? Talvez deva começar pelo início ou por alguma parte do meio – ou seria melhor começar pelo final? Não, não pelo final, senão não haveria suspense.
Bem, isso é fato: há um ser humano, um homem, e esse homem ocupa um lugar especial no meu coração. Ah, vamos lá – vocês sabem exatamente de quem estou falando. Ah sim… Bem, na verdade, eu sempre sonhava em conhecê-lo, em conversar com ele. E neste dia, neste dia extraordinário da minha vida, neste dia eu tive a oportunidade. Ao pensar sobre isso hoje em dia, eu sinto como se estivesse lá de novo, em um lugar maravilhoso da Terra, provavelmente o mais bonito que existe. Na verdade é o mais bonito que eu já vi. E de alguma forma eu nunca deixei aquele lugar… Mas talvez eu devesse contar a vocês na ordem certa!
Então aqui estou eu, olhando para fora da janela dessa elegante limousine branca, vendo este grande portão de madeira aproximando-se. Jesus, estou muito animada! Meu estômago parece completamente lotado de borboletas (estou muito nervosa e ansiosa). Meu estômago? O que é isso? Ai meu Deus, eu sabia que ia morrer! Estou observando o grande homem negro, meu motorista, que havia me buscado no aeroporto. Ele murmura algo em uma pequena máquina – talvez algum tipo de telefone? – e por alguma razão eu fiquei chocada ao ver, logo em seguida, o portão abrindo silenciosamente. A estrada forrada com plantas maravilhosas, todas aquelas flores, árvores e cavalos nos campos ao redor, eu nem percebo.
Estou tentando apenas limpar minhas mãos na calça mais uma vez. Imagine eu apertando as mãos dele e as minhas suando frio! Até consigo imaginar o seu olhar… Ai meu Deus, não deixe isso acontecer! E tem mais um problema… Inglês! Eu tenho que falar em inglês! Claro que eu pratiquei meu inglês durante o voo inteiro e tentei só pensar nessa língua, mas neste exato momento eu não consigo lembrar uma única palavra!
Enquanto o homem negro abre a porta do carro e faz uma pequena reverência, eu gaguejo alguma coisa, e ainda tenho a sensação de que há bolhas saindo da minha boca. O “th” do meu desintegrado “thank you (obrigada)” já havia soado melhor algum dia...
Bem neste momento eu pensei em um antigo colega de classe meu, de quem eu sempre ficava rindo, porque ele não aprendia a pronúncia correta… caramba! Nunca mais vou rir de alguém! Eu juro. E agora eu entendo porque ele sempre ficava com vergonha…
Mas o guarda-costas – bem, na verdade eu não faço ideia de quem este cara seja, mas ele meio que parece um guarda-costa, e poderia ser, né? – dá uma piscada e coloca a mão no meu ombro: “Willkommen in Neverland!” (Idioma: alemão/ Tradução: Bem-vinda a Neverland!) Ai meu Deus, ele consegue falar alemão! Maravilha, se eu continuar sendo tão estúpida, vou acabar esquecendo até o nome DELE!
Mas muito provavelmente ele não está aqui hoje. Muito provavelmente vou passar meu dia aqui, e sempre vou imaginar como seria incrivelmente maravilhoso se ele estivesse aqui conversando comigo… Mas enquanto olhava cautelosamente a casa, eu comecei a desejar que ele não estivesse lá! Deus, que ele esteja no estúdio! Que ele esteja em outro fim de mundo ou em qualquer outro lugar! Eu sei que vou morrer caso o veja! Sim, exatamente! É sempre a mesma confusão! Todos os fãs são exatamente iguais! Por que eu seria uma exceção? E eu estava tão convencida de que comigo tudo seria diferente. Eu queria parar na frente dele, sorrir para ele e dizer: “Oi, Michael! Como você está?” Bem, esse foi um pensamento muito bom, não foi?
Mas no momento eu tenho um pequeno problema. Não, eu tenho dois! Eu havia esquecido como falar aquilo em inglês e minha língua não estava funcionando muito bem. Além disso, meus joelhos vão desabar se eu der apenas um passo! Ele vai me odiar! Eu sei que vai! E eu não quero isso!
Em busca de ajuda, olho fixamente para o homem negro e vejo seu sorriso reprimido em seus belos olhos. Eu acho que não é possível se sentir mais estúpida! Acho que ainda estou encarando-o, até que eu respondo instintivamente a uma pergunta que alguém atrás de mim faz.
“Aproveitou a viagem?”, uma suave voz feminina pergunta. “Obrigada, foi boa…”, eu murmuro enquanto me viro.
Eu analiso aqueles olhos escuros em um belo rosto fino que sustenta cabelos longos castanhos. Esta é… Christine! Ai meu Deus, então ela realmente existe! Bem, para entender do que estou falando, você deve saber que de vez em quando nós todas imaginamos a mulher que poderia ser namorada de Michael – se ela existir. Uma mulher dos sonhos, claro, sim, e agora… É exatamente assim que ela deveria ser! E para esta humana na qual eu nunca imaginei que poderia existir, eu tinha dado o nome de Christine – só por diversão! Bem, naquela época foi por diversão, mas agora ela estava bem na minha frente!… Ou seria ela uma miragem enquanto estou deitada em coma ou algo assim? Ou um fantasma? Ou uma idosa governanta que usa coque no cabelo? E minha mente confusa interpreta a mulher da forma que quiser. No entanto, ela ainda está ali, sorrindo e não está olhando pra mim como se eu tivesse dito algo terrivelmente estúpido. “Venha comigo. Vou lhe mostrar tudo…”. Ha, se eu voltar pra casa sem estar completamente louca, eu juro que convidarei meu ex-professor de inglês para uma degustação em um hotel cinco estrelas. Quando eu tiver dinheiro suficiente, é claro…
Então eu a sigo. Sem olhar para a esquerda e nem para a direita, eu caminho com passos inseguros atrás dela, olhando para o chão sem me dar conta do que está acontecendo a minha volta. Provavelmente esse é o medo terrível de que ela fosse embora do nada e… E o quê? Não há tempo para pensar nisso. E como eu disse, meu cérebro não está funcionando mesmo.
Ah, aqui há uma entrada! Então eu olho o piso. Que qualidade! Ah sim, eu percebo a qualidade do piso. Um carpete com um molde meio florido, em seguida há um com mulheres chinesas carregando coisas engraçadas em suas cabeças – ou seriam japonesas? Enfim, mulheres de olhos puxados, por que eu deveria me importar com a nacionalidade delas? Uma outra entrada, três passos e… O quê? Lajes forradas com capim em ambos os lados. Estou um pouco irritada, levanto minha cabeça e percebo que tínhamos atravessado a casa e estamos agora no parque. Aqui está muito quente, então minhas roupas lentamente começam a colar no corpo. Instintivamente eu retiro meu pulôver. “Sente-se”, Christine – aposto que esse é o nome dela! – aponta para algumas cadeiras maravilhosas com assentos aconchegantes. Todas as coisas são feitas de mármore, mas as cadeiras e a mesa são compostas de uma madeira fosca.
Eu olho em volta e vejo o quão grande a casa ao lado é de fato! Sério, pura Disneylandia! O estilo, as cores, as cortinas de grande parte das janelas. Mas o que eu esperava? Eu não faço ideia, mas de qualquer forma eu nunca tinha acreditado que um dia veria esta casa!
Exausta e com muito cuidado, eu sento em uma das cadeiras e fecho meus olhos por um instante. Não seria mais fácil e menos complicado se eu estivesse em casa agora e, dependendo da diferença de horário, estivesse deitada na cama, dormindo tranquilamente e sonhando com ELE? Neste mesmo segundo em que eu sonho com uma fantasia segura e com o silêncio do meu quarto, eu me dou conta de como aqui é silencioso. Sem barulho, apenas pássaros que piam alegremente, mas de uma maneira que traz calma. Ah sim, de certa forma este lugar é muito agradável…
“Michael…”O QUE???! AONDE???!!! Eu ouço a mulher jovem falando esta palavra muito conhecida e a paz vai embora de uma hora pra outra. Deus do céu, eu sempre fui uma pessoa boa e honesta! Ok, às vezes eu incomodo minha amiga por causa do namorado estúpido que ela tem, e cometo alguns outros pecados, mas na maior parte do tempo eu não estou fazendo nada de errado… Esqueça isso… POR FAVOR!
Em um milésimo de segundo eu dei um pulo e olhei para Christine, ou qualquer que seja o nome dela, chocada… É provável que ela fosse prosseguir falando que ele não estaria lá, ou alguma outra coisa. Bem, infelizmente não.
Não consigo me mexer enquanto acompanho os olhos dela lentamente, mas provavelmente no meu rosto não há aquele mesmo sorriso calmo, e sim o rosto da princesa que descobre à noite que o sapo está novamente em sua cama.
E lá está ele, parado, de calças pretas e uma camisa de mesma cor, a cerca de 5 metros de distância. Ele fica ali, parado em silêncio, olhando para mim. Eu me prendo em seus olhos como uma mosca em um papa-moscas. Esses olhos… Eu olho e olho, mas pelo menos eu tento verificar se minha boca está fechada. Então eu passo minha língua no interior dos meus lábios e espero realmente que minha boca não esteja entreaberta, porque senão a cena não poderia ser mais estúpida… Ufa, não, tudo certo, tudo está fechado.
Droga, esses olhos, esses olhos malditos! Como Kaa, a cobra do livro ‘Mogli, o menino lobo’! Certamente ele tem algo ali que hipnotiza…
“Então essa é a nossa convidada de honra…”.
Ah diabo, essa voz! Eu sinto a realidade se esvaindo aos poucos … Bem, é uma sensação boa…
“Sim, ela finalmente chegou.” Eu acho que Christine disse isso.
“Feliz aniversário! Como está se sentindo hoje no seu dia de honra?”.
“Como você está, Michael?”.
Droga! Essa foi a frase errada! Um completo fracasso, mas eu tinha ensaiado por muito tempo, várias e várias vezes, treinei com a língua por semanas. E então, neste momento, eu não consegui evitá-la de sair!
Mas ele não riu disso.
“Estou bem, obrigado”, ele respondeu em voz baixa.
“Eu quero ouvir a verdade, Michael, por favor…”.
Ah certo! Eu não ouvi exatamente o que ele respondeu, mas já tinha imaginado várias vezes o que ele diria, de modo que essa fala estava programada para ser a próxima mesmo! Eu consegui! Mas não conseguimos prosseguir com essa conversa por muito tempo, porque eu ainda não sei o que falar em seguida.
Ele mantém silêncio e olha para o chão. É esse o motivo para a sensação que estou tendo agora? Parece que alguém jogou um balde de água em mim. A nuvem branca de irrealidade se foi, acaba de desaparecer! Eu o vejo ali parado, pequeno e delicado, completamente vestido de preto, olhando para o chão. O cabelo que também é preto – provavelmente uma peruca – cai suavemente sobre seus ombros.
“Michael?” Eu aproximo-me dele, e é muito fácil!
“Michael, prazer em conhecê-lo.” Estendo minha mão a ele como se não tivéssemos nos falado ainda.
“Olá! É bom ter você aqui. Bem-vinda à Neverland!”
Ele olha pra mim novamente, e aparentemente não se maravilha com meu comportamento estranho. Agora é a primeira vez em que posso desfrutar do olhar em seus olhos e da beleza de seu rosto. Sua pele é tão suave quanto a seda, tão branca quanto a neve.
Mas a coisa mais inacreditável sobre esse homem é essa liberdade. Ele é cercado por uma liberdade e por uma paz incompreensíveis – de repente meu coração não bate mais tão acelerado, não, é como se fosse parando. Durante muito tempo olhamos um para o outro. É ele quem finalmente desvia o olhar. Meu Deus, o que eu devo falar? Eu tinha tantos planos, tantos pensamento para este momento… E para onde eles foram agora?
“Você gostaria de beber alguma coisa? Vocês dois gostariam de beber algo?”, foi Christine quem perguntou.
Eu percebo que ele levanta a cabeça e olha para ela com uma expressão de gratidão profunda.
“Ah sim…! Água…”.
“E você?”, ela me perguntou.
“Eu também… Por favor.”
“Você é da Alemanha?”, ele pergunta.
“Sim”.
“Eu amo a Alemanha. E os fãs de lá são tão leais…Irei visitar a Alemanha em um futuro próximo, acredito eu.”
Agora sou eu quem desvio o olhar. Eu sabia que seria assim. Eu sou apenas uma fã para ele. Por que ele também não me diz que quer comprar uma casa lá? Essa é uma de suas estórias comuns para seus fãs. Mas o que eu esperava? O que mais ele veria em mim? Eu noto seu incômodo e de repente percebo que não há nada que ele possa ver em mim. Talvez ele esteja perguntando para si mesmo o que eu vejo nele.
Eu penso em perguntas que poderia fazer para ele… Ou nas coisas que eu poderia dizer-lhe. Eu poderia dizer que ele ainda é o Rei do Pop, que as suas músicas são as melhores, que “Speechless” me leva às lágrimas toda vez que eu a escuto, que eu o amarei para sempre… Ou eu poderia perguntar onde as crianças estão, ou se ele tinha gostado do casamento da Liza Minelli, ou como Elizabeth Taylor estava… Mas neste momento, eu não sinto que seria o mais apropriado.
"Michael, quando eu penso, há tantas coisas que eu gostaria de dizer a você… Ou pedir-lhe, mas… Nada que eu pudesse falar descreveria exatamente meus sentimentos…”, aquilo foi corajoso, porém espontâneo. Felizmente seus olhos se prendem em meu sorriso. Ele não ri… Mas eu não esperava que ele fizesse isso. Ele é muito quieto. É estranho, ele não fala como todas as outras pessoas, ele se comunica através de seus olhos e de seu corpo. Ele não é apenas um dançarino talentoso enviado por Deus, ele é um gênio do próprio corpo. Cada movimento de seus músculos, em seu rosto, com suas mãos, tudo o que ele faz expressa o que ele sente. Eu percebi isso imediatamente. Mas aquele lábio ainda não funciona totalmente da forma correta… Embora neste momento eu tenha a sensação de que ele queira me falar algo também…
Eu tenho certeza de que não fiquei olhando para os lábios! Eu juro. Mas enfim, por 2 segundos ele colocou o dedo sobre eles. Um gesto estranho, mas ainda entendo. Esse homem é realmente inacreditável. E de repente eu reconheço que copiei a forma dele de sentar. Isso é meio embaraçoso. Rapidamente eu tento me comportar como eu mesma de novo. De qualquer forma, agora eu entendo que não é necessário falar muito para se ter uma conversa.
Agora nós dois estamos lá, bebendo nossa água – em completo silêncio. Ótimo! Mas eu não sinto nenhum incômodo, e eu não acho que esteja sendo constrangedor pro Michael também.
Por mim, eu nunca queria que este momento terminasse, mas de repente eu ouço o som de pés pequenos – e realmente: um monte de crianças entra na sala. Primeiro de tudo, é claro, Prince e Paris – eu não os conhecia, mas eu poderia apostar que eram eles! Os dois são completamente como o pai. Não que eles pareçam com ele fisicamente, mas eles se movem exatamente como ele.
As crianças logo correm para a mesa que está cheia de bolos e sucos . Eu nem tinha percebido que alguém tinha colocado aquilo tudo ali. Enquanto olha seus filhos, o rosto de Michael muda. Sua boca não mudou muito, mas suas bochechas apareceram um pouco mais e pequenas rugas se formaram em torno de seus olhos. Em outras palavras: ele está radiante de felicidade. Minha atenção agora alterna entre ele e seus filhos. Prince e os outros garotos imediatamente começam a comer o bolo, mas Paris veio até nós. Com os braços curtos, ela abraça a perna de seu pai e inclina a cabeça até o joelho dele, como se ele pudesse renovar sua energia. Cuidadosamente Michael ajoelha-se, pega sua menininha em seus braços, fecha os olhos e a abraça forte. Eu nunca vi uma cena como essa. Obviamente os dois não precisavam falar muito, também, para se comunicar.
E de novo, eu olho para ele e de repente tudo muda. Eu sempre soube que não veria nele um ‘super astro’, mas o que eu esperava? Um cara sexy? Um pai perfeito? Um esqueleto? Um anjo? Um músico incrível? Um gênio sofisticado? Não, ele não é nada daquilo. Bem… Ou melhor: talvez ele seja isso tudo! Eu ainda não cheguei a uma conclusão clara, mas neste momento, eu sinto como se houvessem duas asas nas costas dele – similares àquelas em ‘You Are Not Alone’. Uma delas é bonita, boa, grande e brilhante, mas a outra é defeituosa, pequena e doente. Eu sei que vocês não acreditarão nisso, mas sério: eu as vejo! Sem pensar, eu levanto minha mão e vou em direção a ele, mas não para a asa boa, não, eu vou para a pequena… Para aquela que está ferida.
Eu não percebo, mas o toco com o máximo de cuidado. Eu não havia chegado nem perto das costas do Michael, mas ele então olha para cima sem largar sua filha. O rosto dele expressa dor; em seus olhos eu vejo uma agonia invisível. E depois de alguns instantes a tensão acaba. Seu rosto sutilmente relaxa, aquele traço de sangue em seus olhos se cura, e a asa ferida que já sofreu tanto, agora está um pouco mais iluminada. Após a sensação ruim, eu consigo sentir o pó dourado da asa de uma borboleta. Michael ainda olha para mim enquanto Paris quer captar a atenção do pai novamente: “Papai, venha, eu quero te mostrar algo!”
Mas ela não o puxa como a maioria das crianças faria. Não, ela espera na frente dele até que ele se levante. E então eu sinto como se alguém estivesse me arremessando para bem longe conforme a grande asa se dispersa poderosamente, e Michael se levanta sem esforço. Eu acho que neste momento eu pude olhar por trás do segredo de sua dança “tão leve”.
Paris o leva até as outras crianças que estão felizes, brincando e gritando na sacada ensolarada. Eu vejo que Michael imediatamente entrou em um outro mundo, mas seus olhos ainda assim me pedem para acompanhá-lo. Estou surpresa pelo fato de ele não ter me esquecido e me sinto orgulhosa e muito honrada.
“Nós escondemos um tesouro e vocês têm que procurá-lo!” Paris realmente parece ser a líder daqueles pequenos ‘piratas’. Sua calça vermelha e camisa amarela estão sujas, mas isso não perturba ninguém. Todos (incluindo o irmão e o papai) a seguem.
“Você gosta de crianças?” Eu ouço a voz de Michael.
Eu não imaginava que era capaz de chegar tão perto dele! Mas as crianças não são tão loucas por estar perto dele – elas são felizes apenas por estarem lá. Eu ouço um chiado ameaçador atrás de mim enquanto sua super asa corta o ar mais uma vez e faz os movimentos de Michael ficarem ainda mais leves. Nenhum sintoma de cansaço. Ótimo – e eu já estou sem fôlego! Que injusto… Mas eu tenho que perguntar a mim mesma qual seria a sensação caso esta asa um dia batesse em você – uma asa que não existe, que eu posso tocar e enxergar, e que no entanto faz tanto vento que meu cabelo voa descontroladamente.
“Claro, eu amo crianças. Sou babá.” Eu respondo.
“Ah… Maravilhoso.” A atenção dele pertence a tudo: a mim, às crianças, à paisagem – ah sim, a paisagem. Eu sabia que tinha esquecido alguma coisa…! – e ao chão embaixo de seus pés.
E então nós brincamos por Neverland durante horas. E finalmente eu me dou conta de onde estou: este rancho é o lugar mais bonito e marcante que eu já vi na vida. Ah... Bem, eu não tinha dito isso no início? Enfim... Não importa. Eu vou apenas descrever o lugar para vocês: por um lado, é realmente a Disneylandia: Mickey e Minnie andando por aqui, acompanhados do Pato Donald e da Margarida, as plantas em torno daqui parecem muito com as que existem na Disneylandia. Cada flor, cada árvore… Todas as coisas são tão bonitas quanto o possível. A maioria delas é simplesmente perfeita. Enfim... Há um certo tipo de atmosfera no ar. Eu imagino se talvez o motivo não seja a paisagem... Ou seria o seu dono?
É lindo aqui, tira até o fôlego. Não há outras casas, não há vizinhos, apenas montanhas bem distantes… Até mesmo o Sol parece brilhar apenas para este paraíso... Ah sim – o sol! Michael não parece se preocupar com a pele sensível. Ok… Eu devo admitir que ele está vestindo uma camisa de manga comprida e também o seu chapéu, é claro, mas não há nenhuma máscara, nem óculos. E eu estou muito agradecida por isso. Enquanto isso eu percebi que 8 ou 9 crianças que vieram da casa principal conosco, não são as únicas crianças no rancho. Durante nosso percurso, mais três grupos se juntaram a nós. Cada um deles acompanhado por dois adultos. E junto com as crianças saudáveis, estão, como o Michael nos disse tantas vezes, crianças com deficiência ou doentes. Mas ninguém parece se incomodar com essas diferenças. Eu reconheço que uma das pessoas que estava com um grupo cuidando das crianças, é o guarda-costas que me buscou no aeroporto. Ele sorri para mim enquanto seu grupo se junta ao nosso. Ok, eu devo admitir que fico envergonhada lembrando daquela manhã, mas agora eu me sinto muito mais forte e com um poder em mim, como se eu fosse maior, e então eu pude sorrir para ele de volta.
E o jogo continua… Eu sinto como se fosse uma criança novamente, e corro e brinco com as crianças, de modo que eu não tenho tempo para observar Michael. Quando eu decidia olhar para ele um pouco, eu percebia que essa ‘super estrela’ estava se divertindo muito aqui. Ele salta como um canguru, rola na grama cercado por um grupo de crianças gritando e rindo, que jogam bexigas d’água nele. Ele tenta se defender, rindo alto, mas todos sabem: ele não tem chance. Agora as crianças e os guarda-costas começam a atacar Michael não apenas com bexigas d’água, mas também atiram nele com super-soakers (pistolas de água) e mangueiras. Um grupo está ocupado preparando os balões com água, o outro está “atirando”, e o terceiro ataca com super-soakers.
Os guarda-costas sabem exatamente como deixar Michael em uma situação desfavorável: eles simplesmente não deixam que ele tenha acesso às fontes de água. Uma forma injusta de brincar, mas muito engraçada! Em poucos segundos, Michael está completamente molhado. Então ele muda sua estratégia: de ofensiva para um recuo. Em suas tentativas de fugir de seus oponentes ele está indo muito bem. Nenhum milagre… As asas dele estão tão fascinantes – as duas fazem o melhor para ajudá-lo a sair dessa situação. Tudo bem, a asa maior faz a maior parte do trabalho, mas a pequena e doente de repente está cheia de vida e poder. E em alguns momentos Michael perde o equilíbrio um pouco e tropeça. Mas ninguém percebe isso. Só eu. Apenas em um momento ele cai no chão. Todo mundo ri.
“Mike, posso ajudá-lo?” Eu grito pra ele.
“Sim! Pare a água!!” Ele dá risadas.
Enquanto eu corro para fechar a água, o guarda-costas me segue, mexendo a cabeça com um sorriso aberto. De brincadeira, começamos a lutar um contra o outro.
“Florian! Você não deve... Lutar com meus convidados... o tempo todo!” Michael suspira, sem fôlego, de tanto rir. “Paz, por favor… Eu... Eu desisto! Vocês venceram!”
Agora eu entendo. Se ele não pode vencer, ele desiste. Quem poderia ter pensado nisso? Michael se ajoelha e levanta as mãos. E se alguém disser que as crianças podem ser cruéis – está certo. Algumas delas continuam jogando bexigas no Michael, mas os outros pararam imediatamente e finalmente há paz.
Florian e eu nos levantamos – bem sujos. Ok, ele levanta e estende a mão para me ajudar.
“Você tem um cabelo incrível…” Florian murmura com admiração – e fica um pouco vermelho.
“Obrigada…” Eu respondo, também envergonhada. E então eu vejo que meu cabelo longo está completamente bagunçado. Só de pensar em arrumá-lo depois eu fico com dor de cabeça.
Nós vamos até Michael novamente, mas ele aponta para a casa.
“Preciso de um banho…” ele murmura. E eu concordo totalmente com ele. As crianças chegam na casa bem antes de nós. Eles passam a impressão de que nunca ficam cansados de ficar brincando neste lugar lindo. Nós o seguimos mais lentamente. Agora Michael manca quase que imperceptivelmente, e eu imagino se as asas poderiam ser a razão pra isso. A pequena parou completamente de se mexer e a maior se move mais lentamente, mas ainda inacreditavelmente graciosa.
Michael, conhecido como o homem que não fala muito, olha para mim e eu vejo pura alegria e felicidade em seus olhos. Com isso, eu tenho a resposta para a minha pergunta não respondida desta manhã. É claro que ele está bem! Como alguém poderia ser infeliz aqui, neste lugar fantástico? Ele parecia saber o que eu estava pensando, e sorriu calmamente, mas ele não me escapa tão facilmente, porque eu tenho a sensação de que ele esconde o outro pedaço da resposta. E eu estou certa de que essa outra parte existe.
Neste momento em que eu percebo que finalmente o entendi, sinto como se tivesse crescido alguns centímetros. Eu não sou uma menina pequena. E eu não sou boba. Fico orgulhosa de conseguir manter minha força diante da presença dele. E eu sinto um pouco como se eu tivesse começado a construir asas em mim.
Silenciosamente caminhamos lado a lado. Talvez Michael seja o único com quem o silêncio não é problema. Eu posso ver que seu cabelo está molhado, sua camisa e calça estão sujas, mas ele não liga. Ninguém liga.
Eu pergunto a mim mesma o que a imprensa diria em suas manchetes se o pegassem dessa forma. Mas quando eu olho em volta, só há a natureza, o sol, animais e quatro pessoas em silêncio caminhando cuidadosamente lado a lado – prestando atenção para não pisar em alguma flor – e de repente eu percebo que este problema não existe aqui. Imprensa? Paparazzi? Isso simplesmente não faz parte deste mundo. E não consigo imaginar que eu já estive lá antes, nesta outra realidade que agora parece bem distante – e tão infinitamente cruel. Eu sinto os olhos dele em mim, então eu olho para ele. Ele me olha atentamente e cuidadosamente ao mesmo tempo. “Este é o meu mundo, e este sou eu,”. Não consigo explicar o que sinto neste momento. Estou tão honrada, tão animada e tão vulnerável. Eu sinto que preciso de mais. Não consigo explicar, mas eu sinto que eu PRECISO tê-lo em meus braços. Estou tão confusa, tão feliz e calma ao mesmo tempo. Ei… Na verdade o tipo de sensação que se deve ter após um bom baseado. Bem, talvez ele seja a minha droga.
Felizmente eu não tenho muito tempo para pensar sobre tudo isso. Nós acabamos de chegar na casa, que agora eu posso ver com todo seu esplendor.
“É claro que você fica até amanhã.” Michael fala como se tivéssemos combinado há semanas atrás. Não é uma pergunta, porque soa mais como uma afirmação. Mas eu nem pensaria em recusar esta oferta! Eu consigo viver muito bem sem meu estranho quarto de hotel em Los Angeles – e agora estou nervosa de novo.
Alguns minutos depois, ‘Christine’ me leva para os quartos superiores da casa. Ela me apresenta um quarto inacreditável. Nenhum hotel cinco estrelas poderia suportar tanto luxo. É enorme, com uma mesa, cadeiras, sofás, uma cama com dossel enorme (aquele tipo de cama que tem quatro colunas verticais em volta, geralmente fica um cortinado caído ali). Simplesmente linda. Claro que há um banheiro também.
“Há roupas para você no armário, toalhas estão no banheiro... É claro.” Christine sorri. Seus olhos (pretos também) estão me olhando por um momento. Sinto seu olhar indo direto no meu coração, mas eu não me importo. É uma sensação boa. Bem, eu sempre quis perguntar a ela quem ela era, qual seu nome de verdade e como é trabalhar para Michael. Mas eu não ousei. Ela irradia um silêncio de alguma forma sábio; basta uma olhada para ela para se sentir abraçado. De alguma maneira ela me lembra a Karen Faye. E eu admiro Michael ainda mais por quem ele é, e pela forma como ele afeta as pessoas a sua volta. Não, não pode ser um cantor comum com muito dinheiro! Nunca. E quem fala algo contra ele é tão louco – ou simplesmente não consegue imaginar isso tudo – bem… E eu até entendo de alguma forma. Eu aproveito cada minuto naquele banheiro. O chuveiro é três vezes maior que o que eu tenho em minha casa, e esta banheira… Hmmm… Acho que vou ter que experimentar mais tarde! Ou eu devo tomar um banho rápido? Hmm … Uma olhada no meu relógio. Não… eu tenho que encontrar Michael em meia hora! E eu não posso me atrasar. Bem, estou a tempo! Ok… Mais ou menos. Mas se você tivesse meu cabelo e tivesse que arrumá-lo – bem… Então você não me perguntaria porque eu estou cinco ou dez minutos atrasada.
Estou descendo as escadas de forma acelerada em direção à sacada onde Michael está… Quer dizer, NÃO está. Para resumir: ele apareceu uma hora e meia atrasado!
Enquanto isso, eu caminho pelo parque e até acho o zoológico. Eu poderia passar minha vida inteira lá, porque os animais são tão… exóticos – não, está não é a palavra correta – eles são inacreditáveis.
E acredite ou não – embora meu inglês tenha melhorado ao longo do dia, aqueles animais pareciam também falar – ou melhor, entender – alemão também! Pelo menos é o que mostra esta girafa enorme que abaixa a cabeça e olha para mim de forma compassiva, como quem diz ‘Oi, quem é você, anã?’ ou ‘esse repolho na sua cabeça é comestível?’. Rapidamente eu respondo a ela que este ‘repolho’ na minha cabeça é o meu cabelo, e que este cabelo não é para girafas! Um pouco confusa ela se vira – me ignora completamente e se concentra em uma árvore “deliciosa”… De repente o celular que Christine havia me dado toca alto. Eu mal posso acreditar que é o próprio Michael que está falando comigo! A voz dele deixa meus joelhos trêmulos e cada animal olha para mim com um misto de simpatia e diversão.
“Eu não posso ir aí fora mais, porque o sol está muito forte…” Michael calmamente explica. “Mais tarde nós vamos ao parque novamente, mas eu sugiro que devêssemos comer alguma coisa antes.”
Corro o máximo que eu posso até a casa. Só quando eu vejo um dos jardineiros, é que eu desacelero e finjo estar dando uma caminhada pelo parque. Mas virando a esquina, eu volto a correr novamente, o mais rápido que minhas pernas possam permitir!!
Quando eu entro na sala de jantar – que fortemente me lembra o salão enorme de Hogwarts – Michael é o primeiro que eu reconheço. Bem… Ok… Não há nada de novo. Ele tem essa aparência especial. Então é noite. Com um pequeno gesto, ele me convida para sentar a seu lado, mas em seu rosto há algo que me deixa intrigada. Eu sinto um pouco de tristeza.
“O que houve?” Eu pergunto calmamente, e pela primeira vez estou falando com ele como amiga.
“Nada… Eu… É só…” Infelizmente ele olha para baixo e parece mais humano do que nunca. Eu não percebo que eu coloco minha mão sobre o ombro dele e o toco por um momento.
“…Hmm... Foi apenas um telefonema… De negócios…” ele murmura e tenta sorrir, mas seus olhos me contam tudo o que eu preciso saber. ‘Coisa estranha…" Eu penso… ‘É tão fácil entendê-lo! Por que as outras pessoas não conseguem?’ Mas então eu lembro que as pessoas que o conheceram, o entendem perfeitamente.
“Apenas me dê alguns minutos… Vai melhorar logo…” ele conclui e respira fundo.
Eu tenho a sensação de que gostaria de colocar minha cabeça sobre o ombro dele para lhe dar força e segurança, mas de alguma forma eu não posso. E neste momento eu vejo como Christine, que está sentada à direita dele, pega em sua mão e a acaricia suavemente.
‘Bem… Bem … Então eu estava certa!’ Eu penso. ‘Há algo entre eles dois… Mas não estou com ciúmes. Fico feliz que ela esteja aqui por ele.
Então nós comemos. E então não há mais diferença entre a tarde de hoje e depois daquele telefonema. Michael parece estar completamente recuperado. Seus olhos brilham, ele dá risadas e ri como se não houvesse manhã. A propósito: eu percebi que ele come até bastante! Embora muitos fãs acreditem que suas refeições são restritas a uma folha de alface – hoje ele está comendo o suficiente, e como sobremesa tem muito queijo e... É claro, doces.
Assim como o grande chefe sugeriu, nós fomos ao parque depois do jantar. Agora não há tantas crianças como havia de tarde, porque muitas delas já tinham deixado o rancho. Neste meio tempo, escureceu e há cerca de apenas 10 crianças e 5 adultos, agora aproveitando seu tempo.
Mas quando eu tenho minutos de calma, eu olho para Michael e Prince que estão no carrossel. Ambos riem muito e neste momento eu me dou conta de quão solitária está vida deve ser. Eu começo a lembrar de vários parques de diversão que eu já havia visitado até o momento. Ok... Talvez não sejam ótimos como esse aqui, mas… Quando eu penso no número de pessoas que haviam lá… E aqui… quantas pessoas estão conosco agora?
O que eu quero dizer, é que naqueles locais havia pelo menos pessoas; aqui não há nenhum chiclete no chão, nenhum cigarro… E caso eu começasse a dançar uma valsa, eu poderia ser vista? É apenas o nosso pequeno grupo que está se divertindo. Assustador! Honestamente… Já estou um pouco entediada depois de apenas uma hora, mas Michael obviamente está muito feliz! Ele brinca e ri, ri e brinca e… De repente eu fico entusiasmada novamente. Posso ver claramente que ele está tomado por essa alegria. Enfim, as corridas de karts estão tão divertidas que eu não percebo como o tempo passou. Sempre tinha um adulto e uma criança em cada carro e nós roubávamos e ríamos como se estivéssemos completamente loucos. Já que há mais crianças do que adultos, nós estamos muito… Ocupados. Mas depois de trinta minutos eu paro… Minha cabeça está doendo. Michael – quem mais? – prova que ele é o rei dos parques. Ele continua dirigindo tão agressivamente que eu fiquei enjoada – apenas por estar assistindo. A camisa vermelha dele é linda – eu consigo acompanhá-lo com os olhos por toda parte. Ele não está usando um chapéu mais, e seu cabelo está completamente diferente agora… Mais curto e enrolado. Se eu não estou enganada, ele tirou a peruca e este é o seu cabelo real. Mas eu fico meio constrangida pensando isso…
“Ok, ok!” Michael finalmente grita. “Chega por hoje!”
E todos concordam. Nós todos nos reunimos, e então caminhamos lentamente até o homem do sorvete… hmmm… Deixa eu falar, um sonho!!! Bem, mas eu fiquei meio confusa, porque nem todas as crianças queriam tomar sorvete, por exemplo a Paris. Ela para ao lado do papai e olha bem comportada e um pouco tímida.
“Você está bem, princesa?” Michael pergunta preocupado.
Ela mexe a cabeça e sorri alegremente para ele, e eu entendo que as crianças sabem exatamente o que querem – e sabem o que não querem. Eles já atuam com responsabilidade. E Michael entende esta resposta também.
Ele beija Paris e Prince na bochecha e espera até que todos tenham pego o sorvete que quisessem. Michael mesmo não toma sorvete também. Mas eu sim!! Ah, vamos lá, você faria o mesmo, não faria? Agora estou realmente curiosa com o que os filhos do Michael sabem sobre o mundo. Mas é claro que eu nunca ia querer sondá-los, mas… Só queria ter a chance de conversar com eles uma vez. Talvez está seja a única chance na minha vida. E passados poucos minutos, eu caminho com Prince. Na mão direita ele segura o sorvete, e com a outra ele logo segura a minha mão.
“De onde você vem?” ele diz e olha pra mim. Para Prince é normal que as pessoas que estejam lá sejam de diferentes países.
“Da Alemanha. Fica na Europa. Tem que atravessar o oceano…” Eu digo sorrindo.
“Eu sei” ele responde com firmeza. “Eu já estive lá.”
“Tenho certeza que sim…” Estou quase sem palavras. Como eu pude esquecer? Eu lembro de todos os vídeos, por exemplo, um do Michael com o Prince no circo em Munique, na janela do quarto de hotel…
“No lugar onde você mora, as pessoas são boas?” ele pergunta, embora eu quisesse fazer perguntas a ele.
“Bem… A maioria sim. Mas tem algumas que não são tão boas quanto as outras”
“E aquelas não são boas para o papai?”
“Ohh …” Ai Deus, por que eu?! “Sabe, há muitas pessoas que não conhecem o seu pai, e tem horas que… Bem, às vezes eles pensam coisas estranhas sobre ele.”
“Eles dizem que ele é feio?” Prince continua balbuciando.
“Uuh...” Eu olho para Michael que caminha bem perto de nós e que me olha através da escuridão. O branco de seus olhos brilha, em seu rosto as sombras das tochas estão dançando, o que nos ilumina no caminho até a casa. É impossível responder e eu nem ouso dar uma olhada para as asas do Michael, porque eu posso imaginar a mais fraca ficando mais triste e lenta.
“Bem… Eles dizem que o papai é feio?” Prince pergunta de novo.
“Sim… Algumas pessoas dizem isso…” De alguma forma eu consigo falar isso sem tirar os olhos do Michael. Milagrosamente eu não vejo nada mudando em seu rosto, mas… tschhhh. Depois daquilo, Michael abaixa o queixo um pouco e também seu olhar. E eu estou em nervos. Agora eu posso conversar com o Prince. Então eu desacelero meu passo e sigo os outros com um pouco de distância por um momento. De repente eu sinto a mão de Florian no meu ombro.“Você está bem?” ele pergunta sorrindo.
“Sim, sim..” eu respondo e ele continua andando.
Quando chegamos, todas as luzes da casa estavam acesas. De alguma forma aquilo pareceu para mim uma continuação do parque. Acho que é pela perfeita harmonia entre todas as coisas daqui. Mas agora as crianças estão bem cansadas. Bem, a maioria delas… Sem protestar, elas vão para seus quartos.
“Eu vou levar Prince e Paris para a cama. Vocês gostariam de assistir TV depois?” Michael pergunta a nós – nós, bem, há um casal e um menino de treze anos.
Nós mexemos nossas cabeças, e Michael se vira para subir com seus filhos até seus quartos. Enquanto sobe as escadas ele para, olha para mim, e com um pequeno gesto me convida para se juntar a eles. No início eu hesito, mas depois eu o segui. Parece ser o certo, ele realmente quer que eu leve as crianças para a cama com ele. E mais uma vez, eu cresci pelo menos três centímetros.
Eu assisto Paris vestir seu doce pijama e escovar seus dentes. Michael se preocupa muito que seus filhos se lavem bem, mas ele facilita para eles. Ele ri e brinca o tempo todo. E QUE piadas ele faz. Seu humor é inacreditável. Não consigo ficar 5 minutos sem morrer de rir.
“Você é tão inacreditável, Michael.” Eu rio.
De repente ele vai ficando sério.
“Por que? Como os fãs acham que eu sou?” Ele sorri um pouco.
“Ah! É difícil falar. É tão diferente…” Eu penso por um tempo. “…Bem, às vezes eu tenho a sensação de que eles falam de pessoas diferentes.” Eu ri.
“Sério? Isso é muito interessante…” Ele parece estar pensando profundamente. “O que você acha? De onde isso veio?”
“Eu não faço ideia…” Mexo meus ombros.
“E o que você achou de como eu sou?” Mais uma vez ele beija os filhos e então nos aproximamos da porta, apagando as luzes e indo pro corredor. Isso me deu um pouco de tempo para pensar na minha resposta. Agora Michael está me olhando novamente com toda a atenção, que eu não conhecia antes. Mas como eu poderia? Eu, uma fã, o vendo apenas na TV de óculos escuros e em público, mas nunca na vida particular.
“Então…?” Agora ele está realmente sério.
“Ah, essa é uma pergunta muito difícil, Michael. Quero dizer, o que eu devo dizer-lhe? Eu tinha imaginado você do jeito como eu o conheci hoje… Bem… Apenas… Talvez…” Eu simplesmente não sei como dizer o que sinto, ou o que eu vejo – ou eu devo falar sobre asas agora?
“Talvez eu não tenha pensado que você poderia ter uma vida normal assim aqui, no seu próprio mundo. Que você é tão livre… do seu próprio jeito especial.”
Ele olha para mim calmamente: “Eu nunca vivi neste mundo que você conhece.”
“Isso não é verdade, Michael! É claro que já… Em tempos passados, em Gary, na Motown, em todas as turnês, todos os lugares que você já viu no mundo. Vamos lá, você conhece o mundo inteiro.”
Lentamente, ele balança a cabeça olhando para a parede, provavelmente pensando no passado por um momento.
“Minha infância está muito longe. Eu não tenho lembranças dela. E sobre as turnês e todas essas coisas… São coisas completamente diferentes.” Os olhos dele me deixaram louca agora, com certeza!
“Michael, posso tê-lo em meus braços… Por favor?” Eu não me importo que isso soe tão… Coisa de fã. Eu simplesmente preciso abraçá-lo. Ele não responde nada, mas dá um passo a frente de alguma forma, e de repente ele se abre mais ainda. Eu coloco meus braços em volta dele e ele me abraça com compaixão. Eu sinto que ele precisa deste abraço tanto quanto eu, e eu posso sentir sua cabeça em meu ombro. Eu sei, instintivamente, que eu não posso tê-lo mais perto de mim, porque isso o assustaria. Mas eu nunca ia querer fazer isso – veja: a porcelana chinesa é frágil e eu estou segurando Meissner e Rosenthal (marcas de porcelana) em meus braços… Por um longo tempo ficamos ali, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Lágrimas de alegria e tristeza ao mesmo tempo. Porque na alegria dele há tanta dor – foi isso que eu aprendi agora e nunca tinha sido tão óbvio para mim como neste momento. Leva algum tempo até que eu o sinta em seu aspecto físico. Eu sinto o calor da sua pele por baixo da sua camisa, sinto suas costas rígidas (parece ser apenas pele e osso) e eu tenho a sensação de que estou abraçando uma criança, porque ele é tão alto quanto eu, embora seja muito mais magro e de alguma forma, “menor” do que eu. Caramba, e ele é um homem. Eu sinto seu cabelo na minha bochecha, e de verdade, eles não parecem macios – eles são um pouco duros e eriçados. Não são lisos, nem encaracolados, mas sim algo entre esses dois tipos. Mas o que nesse mundo poderia ser mais insignificante? Ele está muito cheiroso e tem essa aura mágica. Depois de horas (para mim), ele mexe a cabeça e eu o deixo ir cuidadosamente. Disfarçadamente, eu enxugo as lágrimas do meu rosto – e eu estou certa de que ninguém nunca tinha me olhado daquela forma, mais agradecido do que ele mostrou neste momento. “O que… o que mais eu posso dar a você, Michael? Do que você precisa?” Eu sussurro. “Mais?” Ele olha para mim sem entender. “Por que mais? Você já me deu tanto!”
Não consigo responder nada; apenas o sigo descendo as escadas até a sala de estar. Nós nos encontramos com os outros, mas Michael não quer ficar ali – ele quer descansar um pouco e deitar em algum lugar enquanto assiste TV. Para encurtar a estória: nós todos subimos as escadas, até um outro cômodo, que eu não acho que seja o quarto pessoal de Michael. O cômodo me fez rir um pouco. Eu devo descrever para vocês: Quando entra lá, a primeira coisa que você vê é uma TV enorme de tela plana que é tão grande quanto metade da parede. A primeira coisa que vem na sua cabeça é: Isso é um cinema? Bem, mas não há aqueles assentos, apenas duas camas enormes, de 4 ou 5 metros cada, na parede oposta. Há também uma mesa enorme, nesta mesa… Uaaaau … Todos os doces e bebidas, tudo o que você imaginar!!! Um paraíso no planeta... Hmmm… E há umas poucas cadeiras também. Cada uma delas é muito grande – cabem pelo menos 2 pessoas em cada… Ou 3,5 Michael Jacksons. Bem… Agora todos procuram por um lugar para sentar. Michael simplesmente se deita em uma das duas camas – o menino ao lado dele. O casal ocupa a outra cama – e eu… Eu me sinto um pouco desconfortável, mas como ‘Christine’ entra lá e senta em uma das cadeiras enormes, eu faço o mesmo.
“O Flo (Florian) não iria se juntar a nós?” Michael pergunta.
“Não, ele já foi dormir…” Christine sussurra.
“Hmmm…” é tudo o que Michael fala – logo ele fica envolvido em um pequeno debate sobre o filme que nós devíamos assistir esta noite. Michael vence – e nós assistimos “Monster unlimited”. Eu gosto muito desse filme e por isso estou ainda mais satisfeita do que estava antes – se isso for possível.
Eu nunca havia sonhado que a atmosfera da casa de Michael Jackson poderia ser tão normal. Todos pegam comidas e bebidas quando querem. Michael e seu amigo se divertiram tanto. Eles jogam a colcha pra longe, se enfiando entre vários travesseiros.
Eles jogam doces um no outro e em nós, e riem o tempo todo. Bem, eu acho que eu teria o direito de ficar com um pouquinho de ciúme, mas… Eu não fico assim! O casal (os pais do menino) está muito mais calmo. Eles seguram a mão um do outro e aproveitam o tempo. Completamente relaxada, Christine bebe algum suco, e de tempos em tempos, folheia algumas revistas que havia levado com ela. Como todo mundo, eu joguei meus sapatos no canto do cômodo e me sinto tão em casa que coloco meus pés na outra cadeira, e ainda peço ao Michael para me dar outro travesseiro – e claro, ele joga para mim…
De repente eu me assusto. Ai Deus… Eu dormi??????? Eu olho ao meu redor no quarto e vejo que as luzes estão apagadas e que não há mais monstros na tela, e sim alguns desenhos antigos sem som. O quarto está em silêncio. O casal desapareceu quando seu filho caiu no sono… Eu suponho. Eu não o vejo, porque ele está escondido embaixo de um dos três cobertores. Christine deitou-se na outra cama – e parece estar dormindo também. Michael, ainda o chefe, não dorme – eu aposto! E eu venceria. Ele fechou os olhos, mas suas asas ainda se mexem, então ele não está completamente dormindo. É como se eu pudesse ver os pensamentos correndo pela mente dele, como eles sempre fazem antes de começarmos a dormir…
Eu não me mexo e tento muito não fazer nenhum barulho. Eu nunca ousaria perturbar esse momento mágico. Sério, esta noite está pura magia, mas é claro que eu não consigo tirar meus olhos de Michael.
Então eu ainda estou olhando para ele enquanto ele dorme. As asas movem-se cada vez mais lentamente, e finalmente elas se dobram, como as asas de um lindo cisne quando ficam nas costas. E Michael abaixa sua cabeça para que seu rosto se esconda atrás da asa maior. Então, tudo está totalmente calmo e em paz. Inacreditável. Mas… O dia inteiro já havia sido inacreditável.
Eu tento ficar mais confortável nesta cadeira grande, e nela eu me sinto muito mais confortável do que na minha cama em casa. Por um momento eu pergunto a mim mesma de onde o cobertor veio, mas então decido não pensar sobre isso mais. Apenas a magia... Eu acordo quando de repente o vento toca o meu rosto. Eu não sei que horas são. Eu logo olho pra Michael. As asas dele batem descontroladamente. Só de pensar na cena eu já fico meio nervosa e assustada. Eu tenho que perguntar a mim mesma o que aconteceria se uma pessoa fosse acertada por essas asas. Mas Michael parece ainda estar em um sono profundo, o que torna isso tudo ainda mais estranho para mim. Porque – e se ele não conseguir controlar ele mesmo, ou melhor, suas asas? Coisa estranha: o garoto ao lado do Michael não parece perceber nada. Portanto ele deve estar longe demais, no outro lado da cama enorme. Ou ele simplesmente não consegue ver e sentir as asas. Bem, eu acho que devo ser cuidadosa com minhas declarações, porque eu não consigo lembrar de já ter visto asas antes daquele dia especial também! Pode ser também que eu não tenha uma habilidade especial, mas fantasio demais... Ou pode ser que eu esteja completamente louca e tendo alucinações... Mas eu realmente gostaria de evitar a psiquiatria!
“Qual é o problema com ele?” eu sussurro.
“Ele está sonhando…” ela responde.
“Não parece estar sendo muito… Hmm… Bom?!” Tentando não fazer nenhum barulho, eu levanto e vou pra cama de Christine. Não é tão fácil, porque as asas literalmente causam algo como uma tempestade no cômodo. Sento-me ao lado dela.
Michael murmura algo, mas não conseguimos entender. Eu me sinto tão triste por esta pequena asa, que não parece ter poder nenhum, mas treme e luta em desespero.
“Para mim, isto parece um pesadelo!… Ele está com medo de alguma coisa?”.
Ela suspira.
“SE ele estiver assustado, então… Bem… Poderia ser por causa do pai dele ou…" Ela olha para mim, então me dá uma parte do seu cobertor. “Hmm… ele está preocupado com Elizabeth no momento…” Confusa, eu olho para ela:
“Sim, eu consigo entender o negócio com a Liz, mas… Com o pai dele? Agora? Com 45 anos? Eu não acredito nisso!”.
“Mas é a verdade…” Christine mexe a cabeça e olha para baixo dos pés. “Isso nunca vai mudar. Ele o machucou tanto. Michael sempre irá lutar por… Por controle, sabe.”
Eu não sei o que dizer e olho para Michael. Eu tenho que olhar duas vezes, mas meus olhos não me enganam. A asa grande está agora menor que antes. Ele perdeu um pouco de seu brilho e poder. Michael incansavelmente se agarra ao travesseiro.
E agora eu estou confusa… Muito confusa. Buscando ajuda e orientação, eu olho para Christine. Mas sua testa fica enrugada:
“É o pai…” ela sussurra e mexe a cabeça. “Sempre o pai…”
Eu posso observar como ela aperta os lábios com raiva.
“Você tem certeza disso?”
“Liz Taylor não causaria isso nas asas dele.”
Agora eu tenho certeza de duas coisas. Primeiro: Eu não tenho problema, e segundo: nesta casa e neste mundo, muitas coisas se diferem das outras casas e dos outros mundos.
“Então… Ajude-o!!” Eu imploro. E eu acho que eu já tive pensamentos demais sobre Christine e Michael, e isso pode ter soado estúpido. Ou talvez eu esteja com medo de ele perder as asas de vez.
“Ele não precisa da minha ajuda. Ele é forte o suficiente. Ele pode ajudar a si mesmo.”
“Muito bom! Mas como você consegue assisti-lo sofrendo assim?” Eu resmungo para ela.
“É claro que não consigo… Mas talvez seja a sua vez hoje…” Christine sorri, um misto de vergonha e encanto.
“Eu???”
“Sim, você! Este é o seu dia especial…”
“E como?” Eu acho que estou me sentindo meio desconfortável agora. Embora eu sempre pensasse que não haveria problema! Que era só ir até ele e… E o que?!
“Ei, não me pergunte…” Christine sorri calorosamente. “Qual a primeira coisa que você pensa quando escuta ‘Michael Jackson’?” “Amor.” Eu logo respondo.“Esta é a solução então, não é?”
“Poderia ser… Mas…”
“Basta fazer o que você sente. Acredite em você mesma, esse é o negócio… Você deve confiar em si mesma, porque eu acho que você tem mais confiança nele do que em você, seria isso?”
Eu não respondo. Não consigo responder esta pergunta. Ok, bem, então estou sozinha desta vez. Mas minha vontade de ajudá-lo é maior que todos os meus medos e minhas inseguranças. Eu quase não reparo que me levanto e caminho até ele. A asa grande encolhe-se mais e mais – e eu até acho que ouço o Michael chorando em silêncio – mas então ela bate cada vez mais agressivamente. Eu espero por um momento, hesitando. Se esta asa me acertar, vai me matar, com certeza.
“Você o ama?” Eu ouço a voz de Christine.
“Sim.” Eu dou mais um passo e vejo como a asa passa por mim. ‘Eu te amo, Michael’ é a única coisa na minha cabeça. Eu fecho meus olhos, e espero pela dor, mas ao invés disso, eu sinto uma sensação boa, que me traz calma, enquanto a asa passa pelo meu corpo sem nenhuma resistência. É assim que você deve se sentir no meio de um encontro amoroso com a consciência de Michael… Bem, na verdade eu poderia ficar sentindo aquilo pelo resto da minha vida, nunca deixar ir embora. Mas eu não vou me entregar a esta doce sedução, porque minha missão é outra!
Instintivamente eu pego a asa grande. Não é fácil tocá-la, mas no momento em que a peguei, ela ficou comigo. Eu tremo, mas tenho esta sensação maravilhosa de que ele confiaria em mim… Para pegar a asa menor não há problema, porque não há muita chance de ela se soltar…
E então eu estou parada aqui, me sentindo completamente louca por estar segurando duas asas invisíveis com as mãos.
Mas para mim, elas são reais. Eu fecho meus olhos, a única coisa que eu posso fazer é tentar passar força e amor para elas – minha força e meu amor. Meu Deus… Me sinto tão boba! E mais do que isso, eu me sinto indefesa. Quer dizer, isso não é nada, né? O que mais eu poderia fazer?
Eu abro meus olhos para olhar para Christine, para ver se ela poderia me ajudar, quando de repente eu me deparo com uma asa realmente enorme! Tão bonita, mais bonita do que já havia sido! É como se ela tivesse sido mergulhada em um saco cheio de pó dourado. Embora minhas mãos ainda estejam tremendo, eu sinto que elas estão ajudando. Eu não posso acreditar no que vejo. E de repente eu entendo o que um desejo muito forte e acreditar em si mesmo significa, e o que isso pode causar. Eu olho para minha outra mão que segura a asa pequena. Esta tenta se esticar um pouquinho e ainda consegue um pouco. Eu acho que este é um momento para sentir orgulho – e quando eu olho para Christine, seu sorriso mostra bem isso. Mas eu simplesmente não consigo sentir orgulho, porque estou satisfeita com o amor. Não há espaço para nenhum outro sentimento dentro de mim. E eu não tenho certeza se este amor que estou sentindo é só meu, ou se é do Michael e está fluindo para mim. É como dar e receber ao mesmo tempo.
Então estou parada lá, e quando finalmente olho para o rosto de Michael, eu consigo enxergar liberdade ali, e um sorriso suave e relaxado – um momento em que as lágrimas vêm em meus olhos.
“Fui eu?” Eu começo a chorar. “Sim…com certeza!” Christine responde e ri. Eu coloco minhas mãos para trás – agora estão quentes como nunca estiveram antes – e eu consigo escutar o som das asas. Como um cisne faria, elas se colocam para baixo e então deitam sobre as costas de Michael. E então tudo fica em silêncio. Eu continuo parada e chorando, mas aí eu sinto o braço de Christine em volta dos meus ombros.
“Venha, vamos dar um passeio” ela sussurra, e eu fico feliz em poder acompanhá-la. Por muito tempo ficamos vagando por Neverland. A maior parte da noite é quente, Christine me fala. Ela me conta várias coisas nesta noite, sobre Neverland, sobre Michael, esta vida e sobre… Bem… Tudo… Mas quando eu pergunto sobre ela e Michael, ela apenas sorri e diz: “Deixe a fantasia ser fantasia, ok? E a propósito, isso não é importante. Apenas uma coisa é certa, se eu não o amasse, eu não estaria aqui…”
Depois de um tempo ela continua:
“Olha, há apenas uma coisa importante. Michael é como um pavão, suas penas vivem do amor. Vivem do meu amor, do seu, do amor dos fãs, amigos, crianças e empregados – todos ao redor dele. Então ele mostra suas asas em cores brilhantes e vivas. Você viu o quão forte ele fica através do nosso amor, e o quão fraco ele fica se há ódio e ignorância. Muitas pessoas o machucam e ele perde poder, mas através do amor de todos nós, o poder dele volta. Este é ele. Este é o segredo dele. E acredite em mim, da mesma forma ele pode devolver ou revidar!” Ela ri.
Eu entendi.
Quando nós voltamos para a casa, o sol já está nascendo. Nós damos uma rápida olhada na cama de Michael, mas ele ainda está dormindo e então decidimos ir para a cozinha preparar o café da manhã – e nós nos divertimos muito durante esse tempo. Então Michael se junta a nós. Ele obviamente tinha tomado banho e se maquiado bem. Ele olha para mim por um momento, com esse sorriso especial que está lá, mas que não é fácil de ver. E eu não posso acreditar em sua beleza. Ela parece correr em cada fibra de seu corpo.
Nós tomamos café da manhã juntos, mas eu vou ter que ir embora em breve – meu vôo de partida é de tarde. Eu acho que vou morrer, porque eu percebo que vou ter que dar adeus a ele. Nesse meio tempo, mais ônibus com crianças chegavam, e o rancho está cheio de vida nova – um novo dia havia começado. Mas o meu foi ontem…
Primeiramente, eu me despeço de Christine. Ela coloca a mão sobre meu ombro e sussurra:
“Continue assim…”
Então Michael me acompanha até o carro. Um longo caminho e não há ninguém além de nós dois. Eu quero dizer um monte de coisas, mas de novo achei que nada caberia àquele momento. Então, depois de um tempo, é Michael quem começa a falar.
“Obrigado…” Ele primeiro olha para o chão, e então direto nos meus olhos. “Eu queria que todos os fãs fossem como você. Eu… Eu sempre esperei que eles… Usassem/sentissem o momento, sabe? E que eles não ficassem apenas correndo atrás de mim, me contando os versos que eles aprenderam... Você não fez isso. Você é uma pessoa ótima… E… Você tem asas maravilhosas.” Ele sorri. “Ainda um pouco pequenas, mas estão crescendo a cada dia!”
Apesar do meu espanto, consigo enxergar a admiração em seus olhos, não inveja, mas sim orgulho. Ótimo, e eu não sabia ainda que eu TENHO asas, até este momento. Mas eu sei que ia ser meio engraçado se agora eu tentasse me torcer toda procurando pelas asas nas minhas costas!
“Obrigada… Mas Michael… O que aconteceu com a sua asa?” “Por quê?” Ele parece um pouco confuso e me olha sem parar.
“Bem, porque uma é tão… Pequena e…” Eu não consigo achar a palavra correta.
“Então… Hmm… Triste…” um momento em que eu me senti meio idiota. “Mas…” Michael continua parado e tristemente olha para baixo, “Eu nasci desse jeito…”
O QUE? Eu olho para ele e não posso acreditar no que ouvi. Caramba, e eu, a maior idiota do planeta, devo ter pensado que ele tinha que ser perfeito. Ou… Bem, pelo menos foi uma vez. Mas sua vergonha e insegurança me fazem sentir como se eu fosse a última pessoa do mundo.
“…Eu não consigo me lembrar que ela tenha sido diferente algum dia…”.
“Ah Michael, está tudo bem!” Eu o ponho em meus braços, desta vez sem pedir.
“É feia, não é?” ele murmura.
Eu ouço um barulho meio forte, e conforme olho por cima do ombro dele, eu consigo ver a asa se abaixando e fixa no chão.
“É perfeita!! Michael, é sua, e então É perfeita!! Deus, desculpe-me, mas é que eu… Eu achei… Que alguém tinha machucado ela… Ou algo assim… ISSO seria terrível!! Não o fato de ela não ser grande…”
Vejo a asa grande se movendo novamente e cautelosamente acalmando-se.
Michael cuidadosamente me puxa de volta e analisa profundamente:
“Isso não é possível. As asas estão sempre como elas são. Tudo bem, elas podem ficar menores ou maiores, ou mais fortes e mais fracas de tempos em tempos… Mas… Quero dizer… Ninguém de fora pode cortá-las tão facilmente.”
“Não? Desculpe-me. Eu não sabia disso…” É claro. Agora sou eu quem está totalmente envergonhada porque eu não entendo dessas coisas!
“Não… Elas podem ser feridas e isso é horrível… Mas não dá para quebrá-las.”
O ponto de vista dele me prendeu bem forte como uma aranha prende sua presa na teia.
“E você sempre deve ser cuidadosa com as suas asas. Prometa-me isso, por favor… Há muitas pessoas no mundo e elas tentarão machucar suas asas. Mas faça de tudo para impedir isso! Você sabe…” Ele sorri um pouco. “Há pessoas para quem você deve dizer para tomar cuidado com o corpo, por causa de drogas e coisas do tipo. Mas você está muito acima disso. Isso seria fácil demais para você. Você deve cuidar de suas asas. Cuide delas bem, porque elas são as coisas mais importantes que você tem. Esse é meu desejo para o seu aniversário… Que os seus vôos sejam sempre seguros. Porque se não forem, a dor é horrível.”
Eu acho que o que eu vi a noite foi apenas uma pequena impressão das experiências dele.
“Na sua vida, sempre procure pelas coisas que deixem as suas asas mais fortes. Deixe-as crescer e deixe-as tão grande a ponto de que elas poderão se defender sozinhas, caso seja necessário. ESTE é o segredo das nossas asas…”.
“Ah Deus, Michael, eu não quero ir embora. Eu quero ficar com você!” Eu coloquei isso pra fora, embora eu não quisesse que ele soubesse dos meus sentimentos. Mas eu não posso fazer nada para evitar isso – e para evitar as lágrimas em meus olhos.
“Por que ‘ir embora’?” ele pergunta e parece tão confuso quanto eu.
“Por que ‘ir embora’?” Eu não consigo evitar risos, “Olha, ali há um carro! Ele vai me levar pro aeroporto e o avião vai me levar pra longe de você.”
Eu começo a chorar e queria muito poder me esconder em algum lugar.
"Mas são apenas milhas. Isso não é nada. Aqui…” Ele toca seu coração, “Nós estaremos sempre juntos. E a coisa mais bonita é…” ele sorri maliciosamente, “Nada pode nos separar – não importa se é dia ou noite, verão ou inverno… Nada disso importa. Há um poder especial que nos conecta e faz de nós almas gêmeas, e você sabe do que eu estou falando…”.
Essas palavras tornaram possível a minha ida ao carro e então, deixá-lo. Eu posso ainda vê-lo parado ali, acenando, em seu mundo mágico, em sua Terra do Nunca…
Mas eu sei que aquele aceno não foi um adeus. E eu sei que o que ele falou neste dia especial – o dia mais especial da minha vida – foi de coração aberto e sincero. Desde então estou sempre com ele, e é ainda mais intenso que antes.
Desde aquela época, eu sempre tomo cuidado com as minhas asas. E sempre quando o vejo em algum lugar pelo mundo, eu olho para as dele. Meu Deus, não dá para acreditar em quão bom é assisti-las – elas estão exatamente do mesmo jeito, dinâmicas, flexíveis e sensíveis, tão maravilhosas quanto ele. E porque? Porque elas são asas de amor.