quinta-feira, 28 de julho de 2011

Você viu minha infância?


Por Coluna da Ursinha, quinta, 19 de maio de 2011 às 11:52


"Eu tenho uma amiga que é fã do Michael e da Madonna, mas ela sente mais admiração pela Donna do que pelo Mike porque ela acha que ambos tiveram infâncias terríveis, mas que a Donna soube lidar melhor com os seus fantasmas do que o Mike. É claro que eu discordo dela.
A verdade é que cada um de nós é único, portanto absorve e reage às diferentes situações de maneiras diversas. Um artista nato é altamente sensível e, portanto, maximiza os sentimentos como o amor e a dor. O artista é um sofredor, por isso a sua imaginação fervilha, pois depende dela pra escapar dos seus sofrimentos que muitas vezes são reais, mas a maioria deles é imaginário. O mesmo vale para o amor que é mais fantasioso do que concreto em sua vida.
Eu entendo muito bem o amor que o Michael sente pelas crianças e o valor que ele dá à infância. A maior parte de nossa personalidade é produto de como reagimos às experiências da infância. Estou certa de que a maioria de nós teve uma infância difícil, seja no plano financeiro ou no sentimental, o que é bem pior. O artista maximiza a dor e tem mais dificuldade pra lidar com as experiências dolorosas do passado. Quem teve algum trauma na infância sabe que é difícil se desprender daquilo que te aconteceu e por mais que você queira seguir em frente, o passado parece estar sempre à sua frente e te segue por onde quer que você vá. Talvez um dia você não aguente mais e procure um profissional para te ajudar a se libertar do fantasma.
É muito fácil dizer para Michael Jackson que ele tem que parar com essa frescura de infância perdida, como já ouvi e li muitos fãs dizerem, mas é preciso ter empatia e sensibilidade pra entender que a gente não está na cabeça do Michael Jackson, que a gente não viveu um dia da sua infância para saber o quanto foi terrível e traumático. A gente não sabe os motivos que o paralisaram ao surgir um pensamento de buscar ajuda com um profissional. Sabemos, porém, que estar rodeado de crianças e se dedicar à arte foi o meio que ele encontrou pra se sentir bem, pra frear os pensamentos aterrorizantes e viver dias felizes. Quanto mais sensível você for, mais você sofre, porém mais você se solidariza com as aflições do outro.
Eu não sei se comentei em algum texto meu ou já dei a entender que eu não curto a Madonna… E por que não? Por que acho que arte boa pra mim é aquela que me faz refletir e me inspira boas idéias, bons sentimentos. Eu não sinto prazer em ver um show de uma artista que se comporta como uma vadia, que supervaloriza o sexo e banaliza o seu corpo. É claro que o sexo é bom e saudável, mas eu não sinto que eu preciso ver, ouvir e falar sobre sexo o tempo todo. Será que a superexposição do sexo melhora o mundo e a mente das pessoas? Eu prefiro concordar com o Michael, eu sinto que preciso ler, ouvir e falar de amor, amizade e alegria, e era justamente isso que ele mais cantava.
Concordo com Michael quando ele diz que o artista tem uma grande responsabilidade sobre as pessoas que ele alcança. Quando você é um artista, você sempre passa uma mensagem e a mesma é absorvida pelas pessoas que gostam da sua arte. Elas processam a sua mensagem e passam aplicá-la em suas vidas. Você, artista, pode inspirar o público a praticar atos louváveis ou maléficos. Eu algumas vezes parei pra refletir sobre as minhas crônicas. Que tipo de mensagem estou transmitindo? Que tipo de sensações desperto? Será que inspiro as pessoas a rirem do escarnecimento de outras? Será que eu inspiro a raiva contra algumas pessoas públicas? Assombra-me a idéia de ser um Casseta & Planeta que eu tanto detesto ou algum Cazuza, Renato Russo, Eminem que na maioria das vezes só faz descer o cassete no sistema ou em alguém. Podemos ser politicamente engajados? Devemos! Mas na minha opinião não precisamos ser só isso, podemos fazer mais. Michael com músicas como They don’t care about us criticava o sistema, mas em músicas como Man in the mirror apontava uma solução: mude a si mesmo e o mundo também vai mudar. Ele não cantava só a crítica, cantava o amor, a amizade, a alegria, os fantasminhas camaradas, etc.
Mas vejamos agora o caso dos cantores de hard rock ou heavy metal, aqueles que sentem uma simpatia pelo demônio, que colocam caveiras horrorosas em suas capas de discos e cantam que o mundo é uma droga, que as pessoas não valem nada, que a vida é dolorosa e que a morte é um alívio. Axl Rose dos Guns’N’Roses, por exemplo, teve uma infância terrível, mas ele processou toda essa dor de uma maneira extremamente negativa.  Ele não a usou para compreender os sofrimentos alheios, mas olhou apenas para si mesmo, colocou-se no papel de vítima, procurou culpados, assumiu um estilo de vida autodestrutivo e espalhou o ódio. Michael teve uma infância tão ruim quanto à dele, mas resolveu espalhar o amor e cantar nas suas músicas que o nosso planeta é lindo e que devemos cuidar dele para que ele continue maravilhoso.
A mensagem que eu quero passar é a seguinte: a maioria de nós teve infâncias ruins ou até mesmo traumáticas, mas você não precisa ser o produto da sua infância, você pode ser melhor do que ela e do que qualquer coisa negativa e podre deste mundo. Você é um ser humano dotado de inteligência e poder de mudar a si mesmo. Faça de si mesmo uma pessoa melhor e espalhe brilho. Seja um foco de luminosidade onde quer que você esteja, revista-se de pele de rinoceronte como dizia o Mike e não deixe nada lhe derrubar. As provações com certeza nos abalam, mas não devemos deixá-las nos aterrorizar e destruir, podemos ser maiores do que elas. Você viu a minha infância? Ainda bem que não viu, senão iria chorar, mas isso não importa. Eu posso mostrar o que há de melhor em mim, mostre-me também o que há de melhor em você, sei que você é especial e é só isso o que importa."

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