Perdemos um grande show. É o melhor comentário que podemos fazer ao assistir “This is It”. A volta de Michael Jackson aos palcos estava sendo detalhadamente preparada, e o que poderíamos esperar é um show como o mundo não via há muito tempo.
O que vemos no filme é um Michael Jackson que os fãs já conheciam. Profissional. Educado. Amável. Perfeccionista. Criança. Um Michael Jackson que conhece profundamente suas músicas, cada nota, cada levada. Conhece o gosto de seus fãs. Conhece todos os passos de suas coreografias. Que briga com a equipe, exige que as coisas sejam feitas do jeito que ele escreveu. “É assim que os meus fãs querem ouvir”. Mas que briga do jeito mais educado que uma pessoa pode brigar. “It’s all for love. L.O.V.E.”. Como não respeitar? O filme é simples, direto. Faz direito o que se propõe a fazer. Mostra o ensaio das principais músicas (podemos perceber que algumas ficaram de fora, talvez uma jogada de marketing para o lançamento do DVD – Como Michael iria fazer um show sem Heal the World?) seguindo o set list original. E é nessa hora que o filme apaixonou os céticos, aqueles que criticavam, aqueles que não conheciam Michael Jackson. Pois ao mostrar o ensaio no seu estado bruto, mostra um Michael Jackson que, no alto de seus quase 51 anos não perdeu a voz e o rebolado. Michael ainda canta, ainda tem voz, ainda alcança as notas. Michael sabe todas suas coreografias, marca os passos como se estivesse contando até três. Simples assim. Natural. Não somente por ser algo que faz por 40 anos, mas por ser aquilo que ele melhor sabe fazer.
Em momento algum o filme cita o dia em que Michael nos deixou. Não foca em melancolia. Não é piegas. Como diz no inicio, é um filme feito para os fãs. Sendo feito para os fãs, foca naquilo que os fãs querem ver: Michael em ação. Uma pena, uma pena mesmo que não é um ensaio geral. Por muitos momentos, MJ se segura. Segura a voz. Segura os passos. Tudo para se poupar para os grandes shows, que nunca vieram. E é nessa hora que o coração aperta. “Estou poupando minha voz”. “Nos vemos em julho”. Mas logo em seguida MJ é levado pela emoção, e se joga em passos de Billie Jean. Se empolga no dueto com a [super]backing vocal em I Just Cant Stop Loving You e prova, de uma vez por todas, que não estava morrendo.
Podemos ver um Michael feliz, se divertindo na grua que o faria chegar mais perto do público. Se divertindo com a nova filmagem de Thriller e Smooth Criminal. Dando espaço para que os novos de sua banda brilhem durante o show. E, como sempre, tentando salvar o mundo. Michael tem uma consciência ambiental impressionante. De seu jeito, dá o recado: vamos parar de culpar “eles”, assumir nossa culpa e cuidar de nosso planeta. Simples assim. Ah, se todos ouvissem Michael Jackson… Tenho que confessar que o inicio do filme me encheu de lágrimas. Ver todos os bailarinos-fãs, sorrindo, felizes, comemorando estarem no palco com o rei. Ver MJ ensaiando com muito cuidado um show que nunca iria acontecer. Mas as lágrimas logo passam, quando você entra no clima do ensaio e se sente mais um bailarino, babando, olhando para o palco, enquanto Michael Jackson dá seu show. E o filme te deixa com uma sensação de “quero mais”. Cem minutos é muito pouco. Quero mais música. Mais coreografia. Mais Michael Jackson. Quero o segundo verso de Black or White. Quero Man in The Mirror inteira. Quero Moonwalk. Quero MJ vivo para nos mostrar tudo o que ele queria!
Infelizmente, ficaremos querendo. This was supposed to be it. Presenciamos o ensaio de um show perfeito, que nunca foi. The greatest show on earth. E, além de tudo, perdemos o melhor artista da história. O mais completo. O único que escreve, compõe, dirige, coreografa, atua. O único que consegue mandar no diretor de seu show (Ortêêêga) sem que esse ao menos perceba. Perdemos um dos seres humanos mais humanitários do mundo, que simplesmente queria levar mais amor para as pessoas. Queria que o homem voltasse a sua essência, se respeitasse. Queria salvar o mundo. Um artista pop completo, que canta. Playback, o que é isso? Michael Jackson é cantor. Tem voz. Conhece o palco como ninguém. Conhece sua potência, sua força. Sabe que é bom. E sabia que estava fazendo o melhor show que o mundo poderia ver.
Infelizmente, ficaremos na imaginação. Pois outro Michael Jackson não nascerá. This is it.
Fontes e créditos:
Blog Cai Muita Garoa