segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Um veredicto para o amor



Essa carta foi escrita antes do veredicto da Justiça, onde Michael veio a ser julgado INOCENTE.

¨Ao som de You Are My Life, o criminoso, aparentemente, beija os lábios de seu filho mais velho. Entre risadas, joga balões d'água da sacada do hotel, na companhia do garotinho de Esqueceram de Mim. Sempre jovial, distribui apelidos e chama a todos, carinhosamente de baby. Nos encartes de seus álbuns, encontramos a maior concentração da palavra "amor" por centímetro quadrado - sim, são "cartas de amor", afinal, a palavra escrita por esse pervertido insiste em formar sempre uma "carta de amor".

Em sua casa, almofadas trazem a estampa de Peter Pan no mesmo quarto em que o pôster de Shirley Temple adorna a parede: sim, eis o cenário dos seus crimes! E há testemunhas. Seu ex-segurança afirma que, certa vez, pasmem, ele chegou a tocar o ombro de um companheiro de partida de vídeo game, com o agravante de estar sentado tão perto a ponto de haver contato corporal entre eles. Senhoras e senhores, este é o crime do século! Este é o comportamento que choca o mundo contemporâneo e faz a mídia clamar por justiça, afinal, há tantas "evidências".


Vivemos no triste mundo em que tememos a criança que cerca o carro no sinal e desconfiamos das intenções do pai que coloca a filha no colo. Já não sabemos mais se a maldade que tememos é a maldade que deveras sofremos ou é a maldade que, como ensinou Freud, está nos nossos corações e, por isso, a projetamos também para o coração do outro. Mas será que, se déssemos uma chance ao outro, não teríamos uma faca cravada nas costas? Conhecemos um homem que deu uma segunda chance à vida e foi novamente traído e abusado. Antes, todos aconselharam-no a amar com reservas, amar com prudência, mas ele já tinha tido o coração tantas vezes partido que não podia deixar de mantê-lo aberto, ainda que sangrando. O homem da câmara de oxigênio preferiu então, ironicamente, não viver na redoma em que vivemos. O crime deste homem é amar acima de tudo, é amar sem "mas" e sem "porém".

Quando o veredicto para esse homem for anunciado, o júri terá decidido por uma das duas alternativas: 1 - amor é a palavra que define, e a máscara que esconde, a atração perversa e pervertida pela inocência; 2 - amor é a palavra que define o sentimento desinteressado de quem resguardou, sabe-se lá como, a pureza da alma. Se a primeira alternativa prevalecer, estaremos condenados todos nós a vivermos no mundo em que amar é crime aos olhos do outro. E, neste mundo, em que as grades foram colocadas ao redor do nosso coração, que importa estar fora da prisão?¨

Fonte: por Andréa Luisa Bucchile Faggion 
artigo foi originalmente postado  MJBeats
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