Um rabino, um entortador de colheres e um superstar começaram uma turnê bizarra no Reino Unido. Um amigo – Jonathan Margolis – juntou-se a eles: essa reportagem única oferece uma visão extraordinária do misterioso mundo de Michael Jackson – e ele até testemunhou o momento em que o torturado Rei do Pop fez as pazes com o pai.
A ligação veio às 2 da manhã. Dizem que a única coisa pior que um número errado no meio da noite, é o número certo, porque invariavelmente traz uma tragédia. Nesse caso, entretanto, um número certo nas poucas horas do dia trouxe uma das mais inacreditáveis oportunidades imaginadas para um jornalista.
“Você gostaria de vir e encontrar Michael Jackson quando ele descer do avião em Heathrow às 9h e passar um pouco da semana com ele?”, perguntou-me uma voz norte-americana familiar. Quem ligava era Shmuley Boteach, meu hiperativo amigo rabino que, em uma das mais imprevisíveis duplas do showbusiness, tornou-se o amigo e guru da lenda viva do pop, Michael Jackson – e, na semana passada, parceiro na fundação de uma instituição de caridade para crianças. Naturalmente, eu aceitei a oferta e, horas depois, entraria pela segunda vez em poucos meses, naquilo que é a vida do cantor de 42 anos, uma vez descrito por Bob Geldof como “O homem mais famoso do planeta, Deus o ajude”.
Por trás das cenas de uma das mais extraordinárias histórias de celebridades, eu me encontrava no meio de tudo, desde ouvir Michael colocando os toques finais no seu discurso de Oxford vestido nos seus pijamas, a fazê-lo rir com uma piada na parte de trás do seu carro, a ouvi-lo fazer uma das mais emocionantes ligações de sua vida.
Michael Jackson estava vindo para a Inglaterra para lançar sua Fundação Heal the Kids, com um discurso na Universidade de Oxford, e para ser o padrinho do casamento do paranormal Uri Geller, como um agradecimento a ele por tê-lo apresentado a Shmuley 2 anos atrás.
Tinha sido uma semana tensa para o rabino. A viagem de Michael planejada há tanto tempo estava ameaçada no último minuto, pois ele havia quebrado 2 ossos do pé ao cair de uma escada, depois por uma greve de companhia aérea – e finalmente, por uma tempestade de neve em Nova York. Então, não foram apenas os cínicos que duvidavam que o Rei do Pop chegaria a Oxford. O rabino, também, estava ficando indiscutivelmente nervoso. Ele tinha passado quase um ano fazendo com que Michael falasse em Oxford, contrariando o conselho de que um mega star poderia receber uma recepção difícil dos estudantes.
Mas poucos minutos antes de me ligar, o rabino Shmuley tinha recebido a confirmação dos EUA. Michael Jackson estava engessado, com dor e muletas – mas também em um voo saindo do aeroporto JFK.
Em novembro, eu tinha passado uma semana com Michael em Nova York, para um artigo de uma revista. Agora, Shmuley me convidava para testemunhar ainda mais, fazendo-me ir mais perto, como Michael, que nesse mês vai se tornar um Embaixador Especial das Crianças das Nações Unidas, está se transformando de um artista para uma figura séria mundial. Shmuley fez sua missão de convencer o mundo de que esse Michael, duplamente divorciado, possa ser não-convencional de certas maneiras, mas tem bom coração e é um homem inocente que deseja sensibilizar os adultos para as necessidades das crianças e merece ser ouvido.
Agora estávamos lá, saindo do aeroporto. O pessoal do Michael, uma tribo de sujeitos robustos, já estava lá, é claro. Eles eram o esquadrão silencioso e observador, e os motoristas, todos ingleses e com experiência em fazer celebridades escaparem em comboios com Mercedes de vidro fume. Havia até mesmo um fotógrafo contratado para filmar e fotografar todo e qualquer movimento de Michael para o arquivo pessoal dele. E então outra parte chegou – um jovem empresário de Michael, seu médico libanês já de idade, estavam lá para cuidar do pé machucado, e mais um bando de homens robustos.
Normalmente, haveria também a babá dos filhos de Michael, uma senhora gentil, sensata e de meia idade, que olha tudo e cuida dos dois pequenos, Prince e sua irmã Paris. Não há nenhuma tropa de 12 babás como freqüentemente falado por jornais – apenas uma. Os filhos de Michael, e também de sua segunda esposa, a enfermeira Debbie Rowe, são um par impecável; não são mimados e são assustadoramente espertos. O pai deles tinha decidido por não trazê-los na viagem, porque temia que fossem fotografados, algo que ele evita depois de serem constantemente caçados por paparazzi.
Assim que Michael e seu pessoal saíram da alfândega, a entourage de quatro carros ficou em posição em uma parte pública do aeroporto, perto de pessoas saindo dos carros para passear. Para minha surpresa, Michael estava vestindo sua máscara de seda preta, um item com o qual eu não o havia visto, tanto em particular quanto quando saímos em Nova York, ou quando o encontrei no Japão alguns anos atrás.
Na verdade, eu sempre falei para as pessoas que a máscara é um outro mito, junto com a câmara de oxigênio e os rumores de que Michael manda que os brinquedos de Prince e Paris sejam jogados fora depois do uso por medo de germes, ambos os quais eu sei que são mentira. A estória da câmara, Michael me contou quando tivemos o jantar de Ação de Graças na casa de Boteach em Nova Jersey, saiu de uma piada que ele fez para um fotógrafo depois que ele tinha entrado em uma que havia comprado para um hospital de crianças e ter saído falando: “Nossa, se eu tivesse uma dessas, eu poderia viver até os 150 anos”. Um tablóide pegou o fato e o rótulo de “Wacko Jacko”, que ele abomina, havia nascido.
O cansaço físico de Michael em Heathrow era visível. Ele estava estressado e exausto, cambaleando de muletas e colocando todo seu esforço para ficar em pé. Ele estava muito centrado em puramente caminhar do que falar oi para alguém que não fosse o rabino Shmuley e, infelizmente para mim, suas muletas e a perna esticada tomaram aquele que seria o meu lugar no seu carro.
Então eu segui o comboio para o Lanesborough Hotel de Londres com um motorista de 67 anos, Stan, que é o chofer de Michael desde que ele era adolescente. Stan estava me falando sobre o assunto da máscara: “É para os fãs e vocês todos da imprensa, não é?”, ele disse, rindo. “Vestindo-a, fotos são garantidas nos jornais de amanhã. Nunca se esqueça que Michael é um showman”.
Os fãs compareceram em massa ao hotel de Michael, dúzias deles acampando em sacolas de plástico no chão, para conseguirem ver o ídolo. Assim que Michael se estabeleceu na suíte, eu fiquei vendo o seu cameraman andando em volta da multidão, que gritava e mandava mensagens para Michael a serem gravadas pela filmadora. Era emocionante.
Lá em cima, na suíte, Michael estava com o seu médico. Eu ficava me perguntando se quando ele aparecesse ele teria alguma ideia de quem eu era. Entretanto, ele me viu e me saudou com um gesto militar engraçado. Eu não tenho ideia se ele realmente me reconheceu, mas fez um trabalho convincente, fazendo-me acreditar que ele tinha.
A maquiagem de Michael, e seu comportamento quieto e tímido, fazem com que parecesse que ele está longe e sem saber o que acontece em volta dele, mas ele tem uma visão de 360 graus e raramente perde algo. Todo mundo, é claro, quer saber como realmente é esse homem misterioso. Para mim, ele parece como uma criança, engraçado, com espírito generoso, amável, bem exigente, e infalivelmente educado. Ele também é inesperadamente fofoqueiro, embora nunca seja malevolente. Ele tem, por exemplo, uma cobra carinhosamente chamada de Madonna – mas está sempre ansioso para dizer como que ele acha que é o mundo da sua rival pelo posto de superstar número 1 do mundo.
Sua voz é leve e ele tem um distinto sotaque do noroeste, embora ele fale em voz baixa e doce. Mas ele também ri alto e com freqüência. Pessoas trombando em coisas e brincando com comida fazem-no dar gargalhadas. Ele odeia até mesmo o mais leve dos xingamentos, e está sempre fazendo perguntas. Ele ouve com atenção, e fica te observando com os olhos sempre-ligeiramente-suspeitos, e te assegura que está ouvindo intensamente pelo fato de não falar muito. À respeito da aparência, eu não vou fingir entender completamente o porquê dele cultivar a imagem que tem, mas eu tenho certeza que tem a ver com timidez e por querer se esconder. Bem de perto, as cirurgias plásticas são óbvias, e agora ele parece estar competindo com o processo natural de envelhecimento. Eu não tenho razão alguma para não acreditar (e algumas para acreditar) na sua alegação de que sofre de uma doença que clareia a pele, e eu sei com certeza que ele tem orgulho de sua herança negra.
Ele contou a Jackie Onassis, que o ajudou com sua autobiografia, “Moonwalker”, que ele usa máscaras para se esconder, e é também sabido que o pai, o famoso severo e exigente Joseph Jackson, falou repetidamente quando ele era criança que ele era feio – um trauma assustador. Michael me lembra um adolescente anoréxico que nunca está satisfeito com a imagem que vê no espelho e tem que seguir mudando-a.
Michael queria dormir por algumas horas e concordamos em vê-lo mais tarde, já que Shmuley tinha uma lista de problemas relacionados à caridade para discutir. Eu fui permitido me juntar a ele como observador, novamente.
Bateram na porta da suíte enquanto Michael e seu mentor estavam em sérias discussões naquela noite. Michael me perguntou se eu não me incomodaria em ir atender. Lá fora estava Macaulay Culkin, em Londres para sua peça de West End, que estava aqui para sair com Michael. “Oi, e aí, sua cabeça gorda de macaco”, disse Culkin ao amigo.
Ou você entende o negócio de Peter Pan de Michael Jackson ou não, mas ele é honesto sobre isso e diz que não gosta muito de adultos e que não gosta de ser um deles – por isso sua simpatia por pessoas que foram estrelas quando crianças, como Culkin, que como ele, perderam a infância.
Deixamos Michael e Macaulay em paz e, de acordo com um tabloide, eles sentaram na cama de Michael e assistiram a filmes infantis. É interessante que quando se refere a Michael, as pessoas dizem que o que as decepciona são as (absolutamente sem sentido e sem provas) acusações de que no começo dos anos noventa ele teria molestado um garoto e teria feito um acordo de US$18 milhões para calar seu acusador. Quando eu lembro que o Procurador local buscou outras acusações mais tarde, e que nenhuma apareceu apesar de tanto dinheiro ter sido investido, e que como é surpreendente isso, considerando que cerca de 10.000 crianças visitam a casa de Michael todo ano, as pessoas mudam as objeções para o fato de que ele parece um pouco estranho – uma culpa menor.
Mas talvez eu já teria me tornado um bom entendedor de Michael depois que passei um tempo em Nova York. Eu o vi trabalhando sem cansar no planejamento da Heal the Kids, uma campanha mundial para que pais passem mais tempo útil com os filhos. Ele fez isso, apesar de estar sob pressão da gravadora para continuar gravando o álbum, o primeiro com músicas totalmente inéditas em uma década.
Eu o vi conversando com psiquiatras infantis, banqueiros, escritores e membros da alta-sociedade, e também em uma ligação com o ator Denzel Washington e Nelson Mandela, o qual ele pediu para ser membro do conselho da Heal the Kids – “Eu faço o que você quiser, Michael”, disse Mandela. “Você sabe o tanto que eu te respeito”. Eu também ouvi Michael em encontros de negócios, onde um homem diferente apareceu – focado, amante dos números, econômico e imaginativo. Ele tinha vários planos para seu futuro, de aquisições de propriedades à direitos autorais e empreendimentos de lazer.
Também testemunhei por inteiro o que eu penso ser a verdadeira dedicação de Michael às crianças. A filha mais velha do rabino Shmuley, Mushki, tinha reclamado chorando para Michael, em uma das suas freqüentes visitas à casa dos Boteach, que ela estava sendo incomodada por um garoto na escola. Michael propôs a ela organizar um encontro de paz, conduzido por ele, com os pais do garoto, para resolver o assunto. Isso não era uma promessa qualquer. Durante uma semana, Michael ligou diariamente para Shmuley e Mushki, perguntando como estava indo a organização do encontro. Quando o dia chegou, Michael descobriu que era o mesmo da sessão de fotos para a capa do seu novo CD.
Então, em vez de mudar a data, ele começou a sessão de fotos às 5h da manhã para conseguir terminá-la. Ironicamente, o garoto e a família acabaram não aparecendo para o encontro.
Shmuley também me contou, das centenas de horas de entrevista que ele gravou com Michael para um livro que estão escrevendo juntos, sobre o jeito que Michael ficou atormentado com o caso do assassinato de Jamie Bulger em Merseyde, com o qual ele surpreendeu a platéia de Oxford, mencionando-o. Tal referência foi interpretada por alguns como uma tentativa de injetar uma cor local no discurso, mas na verdade, a preocupação de Michael com o caso volta ao tempo de seu primeiro casamento, com Lisa Marie Presley, filha de Elvis. Eles acabaram discutindo sobre Jamie Bulger em uma viagem a Londres, quando Michael causou indignação na esposa, dizendo que, assim como estava arrasado por Jamie e seus pais, ele também estava preocupado com os assassinos dele, porque ele tinha certeza que eles deveriam ter tido uma infância ruim – o que na verdade tinha acontecido. Michael se recusa a acreditar no princípio de que uma criança possa ser absolutamente malvada.
No final do ano passado, Michael estava perguntando o que havia acontecido aos assassinos e dizendo o quanto ia gostar de escrever para eles, mas não ousaria fazê-lo porque sua fama o faria pensar que eles haviam sido recompensados, o que ele sabia que seria inaceitável. Ele estava, diz Shmuley, meio depressivo quando percebeu o quanto que seu status de celebridade poderia ocasionalmente ser ruim na sua missão de ajudar crianças.
Eu me juntei a Michael novamente na terça-feira à tarde na sua suíte, enquanto ele fazia uma performance de seu discurso de Oxford, no qual ele estava trabalhando com Boteach por uma semana. Eles já estavam atrasados, devido ao pé de Michael. Ele insistia em fazer a palestra de pé como ele faria em Oxford, com a diferença de que ele usava, na hora, um pijama cinza listrado com um Mickey Mouse no bolso.
Seu foco e atenção aos detalhes eram impressionantes. O discurso era para ter o perdão de Michael ao pai como clímax. Havia uma frase na qual ele falava que se o Jackson Five tivesse feito um grande show, Joseph falava que tinha sido normal, e que se eles tivessem feito um show normal, ele falava que tinha sido fraco. “Você sabe”, disse Michael, “eu estou errado aqui. Ele nunca disse que tinha sido fraco, ele apenas não falava nada. Isso tem que ser honesto”. Ele ficou quieto por um tempo e se sentou, segurando uma tulipa do vaso e parecendo perdido no pensamento. Michael mudou a frase, e aquele solitário “nada” foi bem a palavra que, naquela noite, fez Michael cair em choro e soluçar por cerca de um minuto. Alguns acharam que isso foi teatro; tenho certeza que foi de verdade, assim como muitos dos estudantes de Oxford que estavam perto de mim.
Quando Michael estava se vestindo e vendo seu médico outra vez, as horas passavam assustadoramente rápido, e eu fui dar uma volta na suíte. Por todos os cantos, estavam os resultados da falada farra de compras de Michael na HMV, de £2.000, com Macaulay e uma bonita e loira estudante de 20 anos, filha de uma família amiga em Londres, a qual Michael conhecia desde quando ela era jovem. Espalhados pela suíte, estavam DVDs de vários filmes infantis, a coleção de vídeo sobre vida selvagem de David Attenborough (com preço de £59.99 caindo para £49.99) e dúzias de CDs, incluindo o álbum “1″ dos Beatles, do qual Michael tem os direitos autorais, e comprando, estava pagando a si mesmo os royalties.
De repente me veio na cabeça que não é correto dizer que Michael Jackson apenas gosta da companhia de crianças, como dito freqüentemente. O que ele gosta é de se cercar com pessoas de cerca de 20 anos que ele conhece desde que eram crianças – nas quais pode, portanto, confiar, assim como a amável estudante.
Antes de sairmos, ficando ainda mais atrasados, Michael pegou frutas para a jornada até Oxford (2 maçãs, uma banana, 2 ameixas e uma laranja) e freneticamente cambaleava com suas muletas procurando por coisas para ler – uma pilha de revistas requintadas mais uma cópia do catálogo de £25 da Royal Academy para a atual exibição deles, “The Genius of Rome, 1592-1623″, um presente da sua amiga estudante.
Entramos no carro com o empresário, um médico, um guarda-costas e Shmuley, uma hora antes de termos que estar em Oxford para o jantar. Michael colocou o livro de arte sobre o seu colo, na parte de trás do carro, onde ele sentou comigo e o médico e conversou sobre arte renascentista. Ele explicou que Diana Ross tinha ensinado muito a ele sobre arte, mas que também seu pai era um pintor talentoso.
Foi o rabino Shmuley que sugeriu que Michael telefonasse ao pai em Las Vegas. “Você está fazendo um discurso o perdoando. Acho que agora é a hora, Michael”. Michael pensou na ideia em silêncio durante todo o caminho a Hammersmith, quando de repente ele pediu o telefone celular mais próximo e ligou. “Joseph”, ele disse, enquanto andávamos pela hora do rush de Londres. “Sou eu, Michael. Estou em Londres. Estou bem, quebrei o pé e dói muito, mas eu queria que você soubesse que estou a caminho da Universidade de Oxford para fazer um discurso, e você é mencionado nele… Não, não, não se preocupe, é bem positivo…Claro… Como você está?… hum hum… Claro, claro que vou. Eu te amo, papai. Tchau”. Depois de dizer isso, ele ficou olhando pela janela durante um longo tempo. “Você sabe”, ele disse para todos nós, radiante, “É a primeira vez que eu digo isso. Não consigo acreditar”. Shmuley deu um abraço apertado e o cumprimentou. Michael continuou a ler.
Foi uma viagem feliz, apesar do tráfego. Michael reclamou que todos os CDs que seu empresário havia escolhido eram muito barulhentos. Em certo ponto, houve silêncio, e eu soltei uma daquelas piadas que você gostaria de não ter feito. “Está ficando chato agora”, eu disse. “Eu acho que deveríamos cantar. Alguém aqui pode cantar?”. Normalmente, fazer piadas sobre celebridades não é muito sensato, mas a atmosfera estava tão alegre e leve que eu não pude evitar. Para meu delírio, Michael teve a generosidade de gargalhar.
Michael começou a entrar em pânico à medida que nos atrasávamos cada vez mais. Ele queria ligar para todo mundo que ele tinha atrapalhado por estar atrasado. Para uma estrela que não precisa se preocupar, é difícil não ficar surpreso com sua solicitude.
O discurso de Michael foi impressionante. Sabíamos que os estudantes, jornais e TV ficaram cativados, mas eu queria saber qual era a reação de Trevor Beattie, o criativo guru da propaganda, que estava na lotada câmara de debates victoriana, com suas estátuas de Asquith e Gladstone. Beattie é provavelmente o mais conhecido homem da propaganda no Reino Unido, e já trabalhou em comerciais para a UNICEF com Mandela, e com todo mundo, desde Muhammad Ali a Tony Blair, cujos comerciais para a TV para a próxima campanha eleitoral ele acabou de fazer. Beattie, em outras palavras, sabe um pouco sobre apresentações. “O que eu vi hoje à noite confirma o que sempre acreditei sobre Michael”, ele disse. “Todas essas teorias sobre ele tentar virar branco vão para o espaço. Eu acredito que o seu ponto alto é não se parecer com o pai em nada e, naquela noite, ele matou o fantasma de Joseph e pôde recomeçar. Isso é o que acho triste em tudo até agora, todo mundo fica concentrado em coisas como sua aparência e excentricidades, e se esquecem da sua instabilidade pessoal. Ele fez uma coisa brilhante, com óbvia sinceridade. Eu não posso o admirar ainda mais”.
Fomos para um incrível, enorme, chique jantar para 40 pessoas no Blenheim Palace, onde fiquei impressionado de ver Richard E. Grant, uma estrela de Hollywood, se perguntando como cumprimentar Michael. “Assim… O que tem que fazer? Você finge o conhecer e diz oi, e se apresenta? Eu não tenho certeza”.
E no próximo dia veio o extravagante casamento de Uri Geller. Michael estava atrasado de novo (mais problemas com o pé, exacerbados quando ele tropeçou sobre o próprio – acredite ou não – em um restaurante em Marylebone). As pessoas ficavam com pena, especialmente pela esposa de Uri, Hanna, mas então Michael teve que cancelar também uma viagem de helicóptero para a casa de George Harrison. Harrison, ele me contou, é o Beatle do qual ele é mais próximo.
Minha filha de 11 anos trocou um aperto de mão com Michael e disse sobre ele: “Não tão assustador quanto nas fotos, bem bonito, na verdade”. E me pediram para dançar debaixo da tenda do casamento com Uri, Shmuley e David Blane, o mágico americano, e com o homem da canção-e-dança número 1 do mundo, Michael Jackson, sentado em uma cadeira a alguns passos de mim, batendo palmas. Percebendo meus movimentos de hipopótamo acompanhando o ritmo, o Rei do Pop ficou me olhando. Eu não espero ser contratado para o seu próximo vídeo tão cedo. Ele, por outro lado, parecia feliz, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros.
Por Jonatahn Margolis; tradução de Luís Fernando Longhi p/MJBEATS/EDICHYS